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Fotografia usando o tripé fixo para paisagens noturnas

 

Figura 1: Fotografia de uma paisagem noturna. Fotografada com uma câmera Canon SX130is com tempo de exposição de 15 segundos, abertura 4.5 e ISO 400.

A forma mais básica de fazer fotografia do céu é usar uma câmera fotográfica digital (que possua o modo manual de controle) e um bom tripé. Esse método é tão simples que qualquer pessoa pode fazê-lo sem nenhum problema. O método consiste, simplesmente, de forma resumida em:  ajustar o tempo de exposição da câmera, a abertura, o foco, escolher um ISO adequado, apontar a câmera para o objetivo selecionar o modo de disparo com retardo e clicar. Aqui o astrofotógrafo não precisa de um telescópio ou qualquer outro equipamento sofisticado para fazer astrofotografia.

As fotografias com câmera fixa nos mostram verdadeiros panoramas do céu além de serem, em muitos casos, verdadeiras obras de arte. Nesta postagem as fotos foram feitas pelo autor  e realizadas com uma câmera digital compacta (figura 2), já não tão moderna, Canon SX130is (figura2), que possui controle manual. Ressalto aqui que uma câmera DSLR (figura 3) com melhores lentes e mais recursos de abertura, tempo de exposição e ISO trarão melhores resultados.

Figura 2: Câmera compacta Canon SX130is. Modelo usado pelo autor.

Figura 3:Canon Rebel T6, câmera DSLR.

Aqui o controle dos recursos da câmera é fundamental e é algo que o astrofotógrafo deve saber com antecedência antes de se aventurar a fotografar o céu. Como o brilho das estrelas é fraco é preciso fazer fotos de longa exposição que vão de geralmente 1s até 30 s. A escolha do ISO da câmera é fundamental. Na escolha do ISO deve-se levar em consideração que quanto maior o ISO mais estrelas aparecerão na foto, pois a sensibilidade à luz do sensor da câmera aumenta muito, contudo isto trará mais ruído (granulação) à imagem.  A figura 1, no inicio do artigo, mostra uma imagem feita com 15 segundos de exposição usando um ISO de 400, a granulação é muito pouca comparada com a foto da figura 4 que foi feita com o mesmo tempo de exposição, mas com ISO 800.

Figura 4:Fotografia feita com 15 segundos de exposição, abertura 4.5 e ISO 800. Apesar de mais estrelas aparecerem na foto temos o surgimento de uma granulação maior.

Outro fator importante é o uso do temporizador de disparo da câmera. Uso geralmente 10 segundos de espera para que a vibração da câmera cesse antes do disparo. Veja a figura 5 (com o temporizador de disparo) e a figura 6 sem o temporizador de disparo. Nesta última vemos as estrelas borradas devido a trepidação da câmera.

Figura 5: Foto feita com o uso do temporizador de disparo. As estrelas são apresentadas de forma poutual.

Figura 6: Foto feita sem o uso do temporizador de disparo. As estrelas estão borradas devido a trepidação da câmera.

Algo importante que também deve ser levado em consideração é o formato do arquivo de imagem. A maioria das câmeras compactas utiliza a forma de arquivo comprimido JPEG. Astrofotógrafos mais experientes utilizam o formato RAW em suas imagens, pois este formato não comprimido de arquivo permite que as edições das imagens sejam melhores, pois no formato RAW a quantidade de informações no arquivo é muito maior do que nos formatos comprimidos como JPEG ou GIF. O inconveniente dos arquivos no formato RAW é que eles ocupam muito espaço no cartão de memória da câmera. Na figura 7 mostro uma fotografia que originalmente foi feita em modo RAW com ISO 800 e 15 segundos de exposição em um céu com alta poluição luminosa da cidade de Maceió-AL. Note que o tratamento deixou o céu bem escuro e com um bom contraste. Certamente não teria conseguido isto se a imagem original tivesse sido feita em JPEG. Um bom programa grátis para o tratamento de imagens no formato RAW é o Raw Therapee que pode ser baixado em: https://rawtherapee.com/. Para o tratamento de imagens de formatos diversos costumo usar o Photo Filtre, um software simples e intuitivo, que também é grátis para fins não comerciais. O Photo Filtre pode ser baixado em: http://www.photofiltre-studio.com/pf7-en.htm.

Figura 7: As Híades e Órion. Fotografia feita originalmente em modo RAW, num céu com muita poluição luminosa e depois tratada com o software Raw Therapee e salva em formato comprimido (JPEG).

Existem muitas modalidades de fotografia com a câmera fixa com tripé e uma delas, que vale ressaltar, é a fotografia das trilhas estelares (figura 8). Para gerar as trilhas deixadas pelas estrelas é necessário deixar o obturador da câmera aberto de vários minutos até horas. Cada hora deixará um arco de trilha de 15 graus. As trilhas estelares muitas vezes consistem num problema para o astrofotógrafo. Para evita-las geralmente não se usa exposição além dos 30 segundos.

Figura 8:Trilhas de estrelas (startrails). Fonte: https://unsplash.com/s/photos/startrails

Uma observação a ser feita é que a câmera SX130is não vem originalmente com o modo RAW para salvar as imagens. Para isso instalei nela, por minha conta e risco, o software CHDK o qual permite: o modo RAW, um maior controle da câmera, maiores tempos de exposição (até 64 segundos) além de muitas outras funcionalidades. Se for instalar o software CHDK na sua câmera faça também por sua conta e risco. Não me responsabilizo por nenhum dano causado a sua máquina por este software.

A seguir mostro mais algumas fotos de paisagens noturnas, obtidas no pequeno sítio do autor situado na zona rural do município de Novo Lino em Alagoas, utilizando o CHDK com exposições de 30 e 40 segundos. As fotos foram tiradas numa noite de Lua e mesmo assim muitas estrelas aparecem nas fotos.

Figura 9:Orion por trás das arvores. Exposição de 30 segundos utilizando F4.5 e ISO 400 sem tratamento da imagem.

Figura 10: Nebulosa da Carina. Exposição de 30 segundos utilizando F4.5 e ISO 400 sem tratamento da imagem.

Figura 11: A Lua com os aglomerados abertos Híades e Pleiades. Exposição de 40 segundos utilizando F4.5 e ISO 400 com ajuste do gama no programa Photo Filtre 7.

Figura 12: Paisagem noturna com parte de Órion no topo direito da fotografia. Exposição de 40 segundos utilizando F4.5 e ISO 400 sem tratamento da imagem.

Figura 13: Pés de Umbaúba vistos de baixo para cima. Exposição de 40 segundos utilizando F4.5 e ISO 400 sem tratamento da imagem.

Figura 14: O Cruzeiro do Sul. Exposição de 40 segundos utilizando F4.5 e ISO 400 com ajuste do gama no programa Photo Filtre 7.

Caso você queira se aprofundar na arte da fotografia do céu indico o livro: Fotografia Noturna Com Joelmir Barbosa. Para conhecer parte do trabalho do fotografo Joelmir Barbosa acesse sua página no facebook: https://www.facebook.com/joelmirbarbosaphotography