Muitas vezes me perguntam sobre se é possível fazer astronomia com um pequeno refrator de 60 mm. Respondo esta pergunta de diversas maneiras dizendo, por exemplo, que bastante astronomia foi feita sem o uso dos telescópios, com a vista desarmada, imagine então com um refrator de 60 mm. O Telescópio só existe a aproximadamente 400 anos e a história da astronomia se perde na noite da história humana. Galileu fez descobertas importantíssimas com seu refrator de 26 mm de abertura. E no fim respondo que dá sim para fazer muita astronomia com pequeno refrator de 60 mm, desde que este tenha uma boa qualidade óptica e possua uma montagem estável.
O problema com os telescópios de 60 mm muitas vezes se encontra logo atrás da ocular, ou seja: o próprio observador que não sabe utilizar o seu instrumento. Posso dizer que passei mais de quarenta longos anos vasculhando o céu com meu pequeno telescópio Towa de 60 mm F/15, o qual ganhei de meu pai quando tinha nove anos de idade no ano de 1981. Este foi meu único instrumento até comprar, em fins de 2001, meu primeiro telescópio de maior abertura (um newtoniano de 180 mm F/8). Ainda hoje utilizo muito o pequeno refrator o qual está em ótimas condições, veja a figura 1.
Figura 1: Telescópio Towa 60 mm F/15.
Muita gente fala mal dos telescópios de pequenas aberturas como os de 60 e 70 milímetros, falam talvez porque façam comparações com instrumentos de aberturas grandes ou pelo motivo da qualidade óptica desses instrumentos não prestarem. Sim existe muito lixo óptico sendo vendido por aí, mas não posso condenar toda uma classe de telescópio por causa dos fabricantes ruins. Atualmente possuo três instrumentos de 60 mm. Meu velho Towa made in Japan fabricado nos anos 1970, um Tasco 49Te Made in Taiwan fabricado em meados dos anos 1980 e um Weifeng made in China fabricado nos tempos atuais (anos 2010). Todos eles possuem excelente óptica e boas montagens que permitem ótima estabilização das imagens. Não tenho o que reclamar deles e na minha modesta opinião, são excelentes instrumentos.
Vamos então ao que interessa: o que realmente podemos fazer com esses instrumentos?
A Visualização da Lua
Em um pequeno refrator de 60 mm a Lua é apresentada de forma magnífica e muitos detalhes de sua superfície são revelados por esse pequeno refrator. Vários aspectos das crateras, do relevo e os contrastes de sombras lunares são facilmente vistos com esse tipo de instrumento. Veja, na figura 2, a fotografia que fiz da Lua usando um telescópio Tasco 49Te de 60 mm F/11.8 com uma câmera de celular.
Figura 2: Foto da Lua feita por um telescópio Tasco 49Te de 60 mm de abertura.
A Visualização do Sol
O sol se apresenta esplendoroso visto por meio de um telescópio de 60 mm. Vale ressaltar aqui que esse tipo e observação só deve ser feita usando filtros apropriados (veja figura 3) ou técnicas especiais de projeção. Caso seja feita de forma incorreta a observação solar poderá trazer danos irreversíveis a sua visão bem como danificar o instrumento utilizado.
Figura 3: Telescópio equipado com filtro apropriado para a observação solar.
As manchas solares, veja a figura 4, são alguns dos aspectos do disco solar que podem ser visualizadas facilmente por instrumentos de 60 mm.
Figura 4: Imagem do Sol, com vários grupos de manchas, obtida por um telescópio de 60 mm (Fonte: http://www.company7.com/sbig/products/g_237_samples.html).
O acompanhamento de manchas solares é algo muito interessante para se fazer com instrumentos de pequena abertura.
Observação dos planetas
A observação planetária pode ser considerada como muito boa para refratores de 60 mm. Todos os planetas do sistema solar podem ser vistos com este instrumento. Não dá para estudar a atmosfera dos planetas. Os planetas Mercúrio e Vênus podem ser observados, mas sem muitos detalhes. Este último apresenta fases como a Lua que podem ser acompanhadas pelo pequeno telescópio. Marte quando em proximidades da Terra tem alguns detalhes do seu disco revelados, como algumas manchas escuras e a sua calota polar. Júpiter é uma visão muito bonita num refrator de 60 mm . É possível ver algumas faixas no disco planetário e acompanhar a evolução dos seus quatro satélites galileanos veja a figura 5.
Figura 5: Júpiter e seus quatro satélites galileanos.
Saturno (figura 6) é apresentado como uma pequena joia e dá para ver Titan e mais quatro de seus satélites. Com um bom seing é possível ver até sete de seus satélites. Com ótimas condições de visualização é possível ver, como minúsculos discos, os planetas Urano e Netuno.
Figura 6: O planeta Saturno.
Observação de estrelas duplas
Alguns dos objetos do céu profundo que certamente são muito interessantes de observar, principalmente devido as suas cores são as estrelas duplas. Um pequeno refrator de 60 mm consegue resolver muitas delas. A figura 7 mostra a dupla formada por Albireo. Suas cores ficam bem destacadas vista por meio de um refrator de 60 mm.
Figura 7: O sistema duplo formado por Albireo. (Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Albireo)
Observação de aglomerados estelares abertos
Os aglomerados abertos existem em grande quantidade em nossa galáxia e são belos objetos que são capturados perfeitamente por pequenos refratores de 60 mm. Um exemplo destes aglomerados é M41, veja a figura 8, situado na constelação do Cão Maior.
Figura 8: Aglomerado aberto M41.
Localização de aglomerados globulares
Apesar de não serem resolvidos pelos pequenos refratores de 60 mm eles são facilmente localizados e vistos como uma pequena mancha esférica. Ômega Centauri (NGC5139) e M 22 são facilmente vistos pelo pequeno telescópio.
Visualização de nebulosas
Várias nebulosas podem ser visualizadas com o refrator de 60 mm. Exemplos delas são M42, a grande nebulosa de Órion e M8 a nebulosa da Laguna situada na constelação do Sagitário (veja figura 9).
Figura 9: M8 a nebulosa da Laguna.
Nebulosas planetárias, como M57 (veja figura 10), também podem, com boas condições de céu (seing), serem observadas.
Figura 10:Nebulosa planetária M57.
Outros objetos e eventos
O refrator de 60 mm permite ainda acompanhar estrelas variáveis, ver o núcleo de várias galáxias, aglomerados de galáxias, cometas e asteroides. Permite também ver eclipses (veja a figura 11), trânsitos planetários, ocultações e conjunções (Veja a figura 12 ).
Figura 11: Eclipse do Sol.
Figura 12: Conjunção de Júpiter e Saturno em dezembro de 2020.
É claro que para que um refrator de pequenas dimensões possibilite tudo o que foi dito acima é necessário que ele seja de boa qualidade como os antigos telescópios de fabricação japonesa como o Towa, Projenar, Denkar e Tasco e as marcas atuais como: Meade, Celestron, Orion, Vixen, Skywatcher, Ioptron e alguns Weifeng e Greikas. Evite as marcas desconhecidas, tem muito lixo óptico por aí. Outra coisa que vale ressaltar é que para se fazer Astronomia é preciso ter boas condições de céu, céu escuro e limpo o que não é o caso das grandes cidades. Mesmo com instrumentos de grande abertura o estudo do céu fica limitado se tiver muita poluição luminosa. Aqui ressalto mais um ponto para os pequeninos 60 mm: devido ao seu tamanho e peso esses telescópios podem ser transportados facilmente para zonas mais escuras como subúrbios, sítios ou fazendas permitindo assim que o Astrônomo amador possa fazer estudos mais sérios sobre o céu. Espero ter respondido a pergunta.